Sobre a Epilepsia
A epilepsia é uma doença neurológica cuja compreensão é fundamental para que as pessoas sejam capazes de a gerir a curto e longo prazo. Os dados epidemiológicos são expressivos, revelando que a doença afeta pessoas de diversas faixas etárias, mas que afeta especialmente crianças, adolescentes e idosos.
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Vai encontrar aqui um conjunto importante de informação sobre a Epilepsia:
Sabia que...
A epilepsia afeta mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Globalmente, estima-se que existam dois milhões de novos casos por ano.
Seguindo corretamente o tratamento, até 70% das pessoas com epilepsia podem desfrutar de uma vida plena.
A epilepsia é a terceira doença neurológica mais comum na população idosa.
A epilepsia afeta igualmente homens e mulheres.
Causas
A epilepsia é um distúrbio neurológico crónico em que grupos de células nervosas, ou neurónios, no cérebro, por vezes, transmitem sinais anormais, causando crises. Existem diversas causas e mecanismos de desenvolvimento da doença mas, globalmente, em cerca de 50% dos casos, a causa é desconhecida. Nos casos em que são conhecidas, as causas da epilepsia podem ser descritas como: estruturais, genéticas, infeciosas, metabólicas e imunológicas.
As causas da epilepsia variam com a idade, e algumas pessoas com epilepsia de causa desconhecida poderão ter uma forma genética da doença. Alguns genes podem estar associados à epilepsia ou a forma como alguns genes atuam a nível cerebral pode dar origem à epilepsia. A relação entre genética e crises epiléticas é muito complexa e ainda não existem testes genéticos disponíveis para identificar muitas das formas que esta doença pode assumir.
Pessoas de todas as idades que sofrem lesões graves no crânio (traumatismo craniano) também poderão, posteriormente, desenvolver epilepsia, embora este tipo de trauma seja mais comum em jovens adultos. Nos adultos, as principais causas de epilepsia são, geralmente, acidentes vasculares cerebrais (AVC), tumores ou traumatismos cranianos. Em pessoas com mais de 65 anos, o AVC é a causa mais comum de convulsões, mas existem outras doenças e condições que afetam a função cerebral e que podem conduzir a crises epiléticas, como a doença de Alzheimer.
Diagnóstico
Saber se uma pessoa está a ter uma crise e diagnosticar o tipo de crise ou síndrome epilética pode ser difícil. Existem muitos outros distúrbios que podem causar mudanças no comportamento e ser confundidos com a epilepsia. Uma vez que o tratamento das crises depende de um diagnóstico preciso, certificar que a pessoa tem epilepsia e determinar qual o tipo de epilepsia é um primeiro passo crítico.
A história clínica e o exame neurológico são a base do diagnóstico das crises e, consequentemente, da epilepsia, enquanto a avaliação laboratorial - análises - serve como exame complementar de diagnóstico. As análises sanguíneas são usadas para avaliar o estado geral de saúde do doente e para rastrear qualquer outra condição médica que possa ser a causa da epilepsia.
O médico precisa de todas as informações sobre o que aconteceu antes, durante e depois das crises, pelo que, provavelmente, irá questionar sobre os sinais premonitórios e pormenores das mesmas (como aconteceu, duração, sentimentos e sensações antes, durante e depois da crise epilética). Quando a pessoa não consegue fornecer informações suficientes, as pessoas que presenciaram as crises deverão contribuir com o que sabem.
Depois de conhecer a história clínica da pessoa, o exame neurológico é um passo fundamental no diagnóstico, permitindo identificar ou localizar patologias cerebrais. O exame físico geral também é importante para determinar se a pessoa tem alguma condição subjacente. Por exemplo, marcas cutâneas anormais podem indicar um distúrbio neurocutâneo em que a epilepsia é comum, como a esclerose tuberosa ou a neurofibromatose. Mesmo com descrições precisas dos eventos, outros exames são, por vezes, necessários para saber mais sobre o cérebro, o que está a causar os eventos e onde está localizado o problema. Os exames mais comuns são o eletroencefalograma (EEG) e a ressonância magnética (RM).
Crises Epiléticas
Existem vários milhões de células nervosas no cérebro que são responsáveis pela passagem de sinais elétricos entre si e, todas juntas, contribuem para o seu correto funcionamento. A interrupção ou sobrecarga desses sinais pode conduzir a crises com consequente impacto nas funções cerebrais, como o humor, a memória, o movimento, entre outras.
Existem muitos tipos diferentes de crises. O que acontece durante uma crise depende da parte do cérebro que é afetada. Em alguns tipos de crises, a pessoa permanece alerta e consciente do que está a acontecer à sua volta, mas noutros tipos poderá ocorrer perda de consciência. Poderá ter sensações, sentimentos ou movimentos invulgares. Ou poderá ficar rígido, cair no chão e ter convulsões.
É importante distinguir crises de epilepsia. Uma crise é um evento que pode ser sintoma de outros problemas médicos. Algumas crises são causadas por condições como baixos níveis de açúcar no sangue (hipoglicemia), por alterações no funcionamento do coração ou mesmo por temperatura elevada que pode ocorrer em crianças pequenas, conhecidas como crises febris.
Para entender as crises epiléticas e a sua classificação, é útil saber que o cérebro está dividido em duas metades, chamadas hemisférios. Cada hemisfério tem quatro partes, chamadas lobos, e cada lobo é responsável por diferentes funções.
De acordo com a classificação de 2017 da International League Against Epilepsy [Liga Internacional contra a Epilepsia], as crises são geralmente divididas em três grupos principais, dependendo do local onde têm início: início focal, início generalizado e início desconhecido.
As crises epiléticas podem começar num hemisfério (crises focais) ou afetar os dois hemisférios desde o início (crises generalizadas).
Nem todas as crises são facilmente definidas como focais ou generalizadas. Algumas pessoas têm crises que começam como crises focais, mas depois generalizam para todo o cérebro. Isso é chamado crise focal com evolução para crise tónico-clónica bilateral (anteriormente denominada crise tónico-clónica secundariamente generalizada). As crises podem ser diferentes de pessoa para pessoa e ter epilepsia não significa que se saiba o tipo de crises que se tem.
O que acontece depois de uma crise varia de pessoa para pessoa. Algumas pessoas recuperam imediatamente após uma crise, enquanto outras podem levar minutos ou horas para se sentirem como antes da crise. Durante esse período, elas podem sentir-se cansadas, sonolentas, fracas ou confusas.
Fatores que podem desencadear crises
É bom relembrar que cada caso é um caso e que as pessoas com epilepsia não reagem todas da mesma forma, nem as crises são desencadeadas pelos mesmos fatores.
Não tomar corretamente a medicação
Tomar a medicação para a epilepsia regularmente e de acordo com as instruções do médico é essencial para manter uma concentração constante do medicamento no sangue. Vários estudos mostram que o esquecimento de uma dose do medicamento para a epilepsia aumenta o risco de desenvolver uma crise epilética
Fadiga e privação de sono
Consumo de álcool e drogas
Luzes brilhantes e intermitentes
3 em cada 100 pessoas com epilepsia têm crises desencadeadas por luzes intermitentes ou com padrões brilhantes. Este fenómeno é chamado epilepsia fotossensível
Certos períodos do mês
Algumas mulheres com epilepsia têm maior suscetibilidade a crises durante certos períodos do ciclo menstrual
Saltar refeições
Doença que provoca altas temperaturas
Algumas pessoas dizem que são mais propensas a crises quando estão doentes com infeções que causam febre alta
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BIAL/NOV24/PT/089
Data de prepração: novembro 2024